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Foto do escritorRoberto Lopes

O CONTRAPONTO DA CULTURA DE INOVAÇÃO


No meu último artigo , compartilhei algumas práticas que as empresas devem adotar para se manter relevante, competitivas e adaptáveis a esse novo mundo corporativo. Abordei a importância da mudança de modelo mental, deixando de lado o pensamento linear que moldou os negócios até alguns anos atrás para entrar de cabeça num pensamento exponencial, mais conectado à nova realidade.

No texto, compartilhei 6 características que, acredito, sejam indispensáveis para qualquer empresa que queira seguir prosperando no atual contexto: horizontalidade, aceitação ao erro, centricidade no cliente, data-driven, propósito claro e personalização nas entregas.

Ocorre que essas características, por si só, não são e não serão suficientes para o negócio decolar e para se conseguir introjetar uma cultura de inovação nele. Esses elementos “soltos" não bastam! E aqui vem a parte dura.

Se por uma lado todos querem um ambiente mais horizontal, que tolere o erro, dê liberdade à experimentação, traga o cliente para o centro, etc, por outro, sua implementação não é tão simples. Tudo isso precisa ser contrabalanceado por comportamentos mais rigorosos e muito menos divertidos.

A horizontalidade em qualquer organização possui o contraponto da necessidade de haver a figura da liderança forte e, de preferência, inspiradora. De alguém que realmente faz o negócio acelerar e mantenha não apenas a corda esticada de todo o time, mas que pega junto, participa, se envolve e performa como todos os demais.

De nada adiante reduzir hierarquias e empoderar pessoas se não existem os líderes para direcionar o caminho. Para tanto, é indispensável formar times que possuam alta autonomia, mas também alto alinhamento com a gestão e com o direcionamento estratégico e de visão do negócio. Somente assim a horizontalidade evita o caos, que pode ser mais prejudicial do que inovador.

Da mesma forma, não restam dúvidas que a inovação vai percorrer caminhos incertos e desconhecidos e que a aceitação do erro faz parte do processo. No entanto, essa disposição para experimentar exige uma disciplina rigorosa por trás. Não é a aceitação do erro pelo erro.

As corporações que protagonizam no novo mundo levantam essa bandeira, de forma corretíssima. Todavia, por trás disso elas possuem rigorosos processos de contratação, experimentação e, mais do que isso, métricas de performance importantes e que devem ser seguidas, sob pena de o colaborador que errou cair fora.

Fomenta-se o erro como aprendizado, mas por outro lado não se tolera a incompetência. Não se tolera quem não percorre o caminho (metodologia) para realmente aprender com o erro e que não agregue valor com os seus experimentos e validações externas.

A centricidade no cliente é outro relevante aspecto fortemente levantado por quem ergue a bandeira da inovação. E está certo. É indispensável cada vez mais olhar para o cliente, entender as suas dores, os seus comportamentos, como ele resolve os problemas que também resolvemos, quem se relaciona com ele e com quem ele se relaciona, pois aqui existe um risco para o meu negócio.

No entanto, não é mais somente isso. Não é apenas sobre olhar para ele. O olhar deve ser mais amplo, principalmente em tempos de tanta incerteza, precisamos ter um olhar mais macro, um olhar mais de ecossistema.

É importante, sim, trazer o cliente para o centro, mas trazer junto o ecossistema em que ele orbita: o cliente, os colaboradores, os stakeholders, a comunidade, os concorrentes, etc. Negócios sociais devem ter uma relevância ainda maior e essa visão deve pensar nesse contexto também e não somente no cliente. Impõe-se expandir esse olhar e estar atento ao todo.


A orientação aos dados é outro ponto que se deve atentar com carinho, mas daqui a pouco não serão apenas os dados. Serão os dados estruturados, mais a inteligência artificial desenvolvida mais sei lá o quê. O que quero dizer aqui é que ser data-data-drive não garante assertividade, principalmente nesse mundo de mudanças e rupturas tão velozes e profundas.

As mudanças seguem acelerando e a tecnologia também.

Sobre o propósito, acredito que ele parece mesmo ser o novo greenwashing. Muitas empresas preocupadas com o assunto e desvendando seus propósitos ou se apropriando de um propósito muito bonito no texto e no conceito, sem efetivamente concretizar ele na prática ou deixando de lado na primeira oportunidade para a obtenção de um melhor resultado (seja ele financeiro, estratégico, operacional, etc).

O maior desafio é superar a euforia de ter um propósito apenas para dizer que tem, para ser uma empresa verdadeiramente transformadora e relevante para o mundo.


É indispensável entender que cultura de inovação é necessária. Mas ela também é paradoxal.


Somos beta. Somos BetaHauss ;)

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